Identificar a nossa real vocação não é uma tarefa muito fácil. É como se tivéssemos que optar por um caminho para chegar a um destino, mas sem ter certeza se esse caminho é mesmo o mais correto, sem saber os obstáculos que iremos enfrentar no percurso e sem saber ainda se o destino é de fato aonde desejamos chegar.
Muitos de nós até nos inspiramos em pessoas que admiramos e com isso queremos modelar essa personalidade e seguir o mesmo caminho dela. Sejam elas personalidades públicas ou algum parente ou amigo ou pessoa do nosso ciclo de relacionamento. Sempre buscamos um referencial. Como exemplo simples, isso acontece com os garotos quando tem nos seus ídolos de esporte um exemplo para seguir e com as meninas nas top models internacionais. Ou ainda quando escolhemos as profissões dos nossos pais ou de algum parente próximo para dar continuidade a um legado.
Eu particularmente concordo que não há problema em copiar estratégias usadas por outras pessoas para atingir resultados semelhantes. Considero isso muito saudável e válido. Podemos crescer partindo do sucesso de outra pessoa, através de uma experiência já bem-sucedida. A humanidade evolui com o passar dos anos dessa forma. Uma pessoa pode se identificar e admirar um determinado trabalho e com isso pode vir segui-lo e até a aprimorá-lo. Uma determinada pesquisa científica pode ser iniciada por uma pessoa e depois aprimorada por outra. Ou um compositor pode se identificar com um determinado segmento musical, partindo do sucesso de algum ídolo, e buscar essa base para as suas composições. Ou ainda um pintor pode se identificar com algum estilo, partindo da sua admiração por determinado artista já conceituado, e com isso produzir suas obras com base nesse estilo, incluindo nos trabalhos a sua identidade.
Modelar não significa plagiar. Plagiar é uma pessoa se fazer valer da autoria de um trabalho que não foi seu. Modelar é usar como base um trabalho bem-sucedido, buscando nele uma inspiração para desenvolver um novo trabalho. Modelar alguém de sucesso é um caminho natural e também nos promove aprendizagem e uma garantia maior de que aquele caminho pode nos levar ao êxito. Aliás, fazemos isso desde criança sem perceber, nas pequenas ações, quando aprendemos a andar, falar, comer, dançar… A questão é se certificar se sua vocação é semelhante à da pessoa que você admira. Se você admira um cantor, por exemplo, não quer dizer que você também nasceu para cantar. Mesmo com muito esforço, você talvez não tenha o dom para determinada atividade e isso se tornará frustrante com o tempo.
Aqui entra o conceito de dom, talento e vocação. Dom é uma palavra que vem do latim donu. Significa dádiva, presente, algo divino ou aquilo que vem de Deus. O dom é uma capacidade especial inata que uma pessoa possui ou que um grupo de pessoas possui. Na prática, um dom é um potencial para desempenhar com alguma facilidade determinadas tarefas que são complexas para a maioria das pessoas. Este é o fato de certas crianças desenharem bem, mesmo sem muito treino, outras tocarem um instrumento musical com desenvoltura ou a prática de algum esporte de alguma forma diferenciada. É uma característica que já nasce com a pessoa e que a torna especial por isso.
É importante não confundirmos: dom não é condição suficiente para caracterizar um gênio. Qualquer indivíduo pode ter um dom – para dançar, para cantar, para palestrar, para cozinhar, etc. Já um gênio tem um dom muito especial. Na genialidade há algo que a ciência ainda não explica pois é quando essa pessoa se torna única no que faz. Citamos Beethoven, Mozart, da Vinci e Steven Jobs como exemplos de pessoas que tiveram um dom especial e se destacaram. É como se estivessem a frente do seu tempo e fosse muito difícil acompanhar e até modelar essas pessoas. Elas podem nos inspirar, mas sabemos que é muito difícil chegarmos aos resultados alcançados por elas. Diferente do Seu João Marceneiro, que monta um móvel de madeira em poucos minutos, mesmo sem manual. Beethoven tinha um dom e também foi um gênio, pois era superdotado desse dom. Já o Seu João apenas tem um dom, que o direcionou a fazer o seu trabalho com mais facilidade e competência do que outras pessoas.
E o que é talento? O talento se parece muito com o dom na sua essência. Mas tem origem diferente. O talento é uma tendência ou um gosto especial que pode ser desenvolvido. Mesmo que exista algum componente genético, o talento depende de três atitudes para ser atingido: treinar muito; ter disciplina e ter perseverança. Isto só confirma a ideia de que “todo talento é 1% inspiração e 99% transpiração”. Então, o talento depende da atitude da pessoa e do seu nível de comprometimento em aprender alguma competência para desempenhar alguma atividade específica. Tudo parte da vontade e da motivação dessa pessoa em se dedicar a ponto de obter essa competência. Claro que se a pessoa já tem alguma predisposição genética (dom) para tal atividade, ela terá mais facilidade em aprender. Mas todos devem se dedicar, mesmo que já tenham um dom.
E como ficam aqueles que têm dom, mas não têm talento? Estes de certa forma não aproveitam algo especial que eles têm. Eles nasceram com algo especial, mas não lapidaram como deveriam. E existem pessoas que têm talento, mas não têm dom? Sim, ao meu ver, existem. Pessoas podem conseguir atingir o sucesso, mesmo sem ter um determinado dom, mas dependerá de um esforço maior e terá um caminho muito mais oneroso a trilhar. Tudo dependerá da sua força de vontade, mas se deve avaliar se de fato vale a pena e se é isso mesmo que o realizará e o fará feliz. Ele pode estar desperdiçando o seu verdadeiro dom em alguma outra área.
E qual então o conceito de vocação? Vocação é um termo derivado do verbo no latim “vocare” que significa “chamar”. Esse chamado pode ser entendido como o prazer, a satisfação e a felicidade em realizar determinadas tarefas. Quando fazemos algo que nos dá prazer, e com relativa facilidade, estamos atendendo à nossa vocação. Muitas pessoas falam que quando estão trabalhando não sentem como se estivessem trabalhando, mas se divertindo. E esse sentimento vem justamente do prazer de estar exercendo tal atividade. Essas pessoas encontraram a sua verdadeira vocação.
Tem pessoas que identificam o dom, mas não tem interesse em o praticar, nem o aprimorar. Tenho uma amiga que canta muito bem. Ela já chegou a cantar junto com alguns pianistas em eventos, mas não se sentia bem no palco, pois era muito tímida. Apesar de ter o dom, ela não estava feliz e confortável exercendo essa atividade e por isso resolveu parar. Ela entendeu que apesar de cantar bem não era isso que gostaria de fazer na sua vida, ou seja, não era sua vocação. Hoje ela canta apenas em ocasiões especiais, restrito a amigos bem próximos. Ela se tornou maquiadora profissional e buscou aprimorar esse talento. Ela encontrou outro dom na sua vida, busca diariamente se capacitar para exercer da melhor forma esse trabalho. Ela encontrou sua vocação e demonstra ser muito feliz e realizada!
Para resumir os três conceitos e facilitar o entendimento, associamos então o Dom à Personalidade (são as características inatas de cada pessoa, que vêm de berço e no DNA), o Talento às Competências (o que realmente cada pessoa desenvolve com os anos, aprende, se apodera e sabe fazer bem e melhor com o passar do tempo) e a Vocação aos Interesses (atividades que cada pessoa realmente gosta de fazer que na maioria das vezes está já associada a facilidade que ela tem em desempenhar tal atividade, ou seja, ao seu dom e talento). Só estando em sintonia com esta tríade podemos ir em direção à perfeição e realização e assim alcançarmos a felicidade plena.
Um filme muito interessante que nos mostra exatamente o conceito de dom, talento e vocação é Tinker bell (2008), da Disney. Esse filme conta o nascimento da fada Tinker Bell, conhecida também no Brasil como Sininho. No seu nascimento, ela já descobre ter um dom especial para o artesanato. Ela então vai morar na vila das fadas artesãs para desenvolver o seu dom, porém ela descobre que as fadas que lidam com dons da natureza viajam ao continente a cada mudança de estação e as artesãs não. Ela se sente tolhida a continuar na vila por toda sua vida e sonha em desbravar novos horizontes e por isso luta contra o seu dom e busca desenvolver um novo talento.
Apesar das diversas tentativas, ela não consegue praticar outras atividades e acaba desenvolvendo através do artesanato formas de melhorar o trabalho de todas as fadas. Ele se vê como uma fada especial pois ela contribui com o trabalho de todas. Ela descobre que seu dom para o artesanato é raro e como ela é especial em ser uma artesã. A partir daí ela desenvolve seu talento, trazendo inovação nos seus trabalhos, a ponto da Rainha das Fadas lhe dar uma permissão para ir ao continente, que era seu sonho. Ela então se torna uma artesã de destaque na vila das fadas artesãs e encontra a sua vocação, pois passa a fazer o que verdadeiramente sabe e gosta.
O filme é rico em diversos aspectos. É um conto de fadas que promove diversas reflexões:
- Todos nascemos com algum dom e temos que nos conhecer melhor para o descobrir;
- Às vezes admiramos outros dons que não temos e podemos estar desperdiçando o nosso verdadeiro dom, que é algo precioso por ser verdadeiro e inato;
- Todo dom é especial e se trabalhado e desenvolvido pode ser ainda mais especial e trazer resultados impactantes, basta ousar e inovar;
- Cada trabalho tem seu grau de importância, não existe área ou carreira mais importante que outra, se nos dedicarmos atingimos resultados extraordinários;
- Todos temos o poder de mudar a realidade, basta acreditar em si mesmo e na nossa capacidade.
É um filme voltado ao público infantil e traz uma mensagem muito positiva ao mostrar que todos nós somos seres de luz, dotados de dons especiais e capazes de realizar grandes feitos. Tudo reforça o fato de que nós devemos nos conhecer melhor e descobrir o que nos diferencia. Nós devemos entender nossas características e habilidades e aprimorar nossas competências para identificar melhor a área que temos mais afinidade e qual delas mais se aproxima a nossa vocação e com o estilo de vida que queremos. Isso sem dúvida torna o percurso mais fácil, mas ainda necessitará de esforço e persistência.
A verdade é que todos nós temos potencial e nascemos com algum dom ou ainda mais de um dom, que podem vir a se transformar em talentos. Algumas pessoas descobrem esse dom logo cedo e, com isso, compreendem sua predisposição para determinadas áreas ou profissões. E quando chega o momento decisivo, elas já têm quase certeza do que vão fazer.
Porém, a grande maioria tem muitas dúvidas a respeito da carreira que deverá seguir, o que se torna bastante doloroso e angustiante, principalmente quando não se tem ideia do que se quer e quando não percebemos alguma característica marcante. Ás vezes nosso dom está escondido e ainda não tivemos a oportunidade de mostrar. Ou nem nos damos conta de que tal caraterística que possuímos é um dom. Isso tudo acontece por conta da falta de experiência e maturidade que temos quando nos deparamos com a escolha da profissão, especialmente por sermos muito jovens. E se deve ainda ao fato de nos conhecermos pouco. Devemos nos conhecer mais na essência. Ter um diálogo profundo com nós mesmos para entendermos o que gostamos, o que acreditamos ter de especial, o que queremos nos tornar e principalmente o que verdadeiramente nos fará felizes.
Para encontrar o seu caminho, a pessoa deve então conhecer melhor a si mesmo, suas próprias habilidades e capacidades, assim como quais aspectos precisa aprimorar, e ainda ter o conhecimento do mercado de trabalho que gostaria de atuar e sobre desenvolvimento e a prática cotidiana da carreira a qual imagina seguir. Ela deve avaliar se esse cotidiano está em comum acordo com os planos pessoais, como casar e ter filhos, se manter fixo na mesma cidade por anos, ou ter uma mobilidade para encarar o desafio de morar em outra cidade ou outro país por exemplo.
Nesse contexto, o Coaching desponta como um ótimo método de orientação vocacional, pois ajuda a descobrir os seus dons, como aprimorar seus talentos, o que realmente o interessa e o motiva, e o que vai atender suas expectativas atuais e futuras, tanto profissionais, como pessoais. No processo de Coaching, a pessoa será levada, através de questionamentos feitos pelo seu Coach, a descobrir sua missão de vida, suas crenças e seus valores, e ter conhecimento das suas habilidades e competências. Além de ser estimulado a responder algumas questões que promovam um mergulho mais profundo dentro de si mesmo, como:
- O que quero de verdade para o futuro? Como me vejo daqui a 5 ou 10 anos?
- Qual estilo de vida quero levar? Quero casar e ter filhos? Quero me dedicar exclusivamente a minha profissão?
- Com quantos anos pretendo sair da casa dos meus pais? Qual o padrão de vida que almejo?
- Como pretendo conciliar a minha carreira com os cuidados e atenção a minha família?
- Pretendo fixar raízes em uma única cidade, ou gostaria de ter experiência residindo em outros locais e países?
- O que verdadeiramente me motiva? O que eu passo horas fazendo e não percebo o tempo passar?
- O que não abro mão de fazer por conta do trabalho?
- Quais as minhas expectativas perante o mundo? Qual a influência que pretendo ter na sociedade?
- O que gostaria de deixar de legado no final da minha carreira e como gostaria de ser lembrado?
O profissional Coach não dará respostas ao seu cliente Coachee, mas sim fará, através de perguntas poderosas, com que ela encontre dentro de si respostas para os questionamentos apresentados. São essas algumas perguntas, orientadas por um profissional qualificado, que podem ajudar a identificar o seu dom, talento e vocação.
Lembrando que estamos em constante evolução e somos seres complexos, podemos ter diversos dons, bem como desenvolver diversos talentos. Não é apenas um dom, mas um conjunto de dons que podem melhor nos assegurar do que queremos nos tornar e aonde queremos chegar. O mais importante é acreditar na nossa capacidade. Temos algo especial dentro de nós. É desse ponto que devemos partir. Somos seres especiais e divinos. Basta mergulhar fundo no nosso íntimo e buscar a verdade que existe dentro de cada um de nós. Somos nós que temos as respostas para nossa vida!
Podemos buscar ouvir pessoas mais experientes, ou pedir conselhos de pessoas que nos conhecem bem e em quem confiamos. Buscar ainda modelar pessoas bem-sucedidas. Podemos também fazer testes vocacionais que ajudam a nos conhecer um pouco mais, assim como entender junto de um profissional qualificado qual o nosso perfil comportamental. Tudo é válido. Mas antes de tudo temos que acreditar naquilo que nos identificamos, no que desejamos e queremos de verdade. Através dessa descoberta, nos tornamos capazes de desenvolver grandes projetos e alcançar grandes resultados, superando a nossa própria expectativa, pois estaremos vivendo uma vida que verdadeiramente queremos.